Tudo que o produtor precisa saber sobre carrapatos 1m4i1o

Controle/manejo do carrapatos bovino. 2v1h

Veja também: Rastreabilidade da pecuária é inevitável

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Dados do IBGE de 2022 mostram que o rebanho bovino brasileiro ultraou 218 milhões de cabeças, situando o Brasil entre os maiores produtores de bovinos do mundo, e a exportação de carne oferece uma contribuição importante na balança comercial brasileira. No ano de 2020 a produção leiteira no país foi de mais de 35,4 bilhões de litros de leite. Para alcançar esse nível de produtividade, foi necessário investimento na genética do rebanho exigindo novas estratégias tecnológicas entre elas o controle do carrapato.

Dentro da fazenda é necessário conhecer melhor os carrapatos, ácaros hematófagos obrigatórios, com capacidade de causar prejuízos econômicos e realizar a transmissão de patógenos de importância para a saúde única, gerando risco de morte nas propriedades rurais do país. Para obter soluções, é necessário procurar estratégias adequadas para não deixar o carrapato picar um hospedeiro pois é aí que tudo começa. No mundo são conhecidas mais de 950 espécies e, no Brasil, mais de 76. Neste documento são destacadas apenas duas espécies de maior importância: o carrapato-do-boi (Rhipicephalus microplus) com interesse no impacto econômico e o carrapato estrela (Amblyomma sculptum) com interesse em saúde única, por transmitir a Febre Maculosa Brasileira (FMB)

O CARRAPATO DO BOI

O carrapato-do-boi, R. microplus, exótico no Brasil, originário do sudeste de Ásia e introduzido por meio da importação de bovinos, é uma espécie amplamente distribuída no país, que provoca a perda estimada de mais de 3 bilhões de dólares por ano na cadeia produtiva de bovinos no país.

Esse carrapato apresenta distribuição nas regiões tropicais e subtropicais do mundo, e tem como característica estar intimamente relacionado aos bovinos, muitas vezes relatados em altas infestações principalmente quando associados a bovinos de origem europeia (taurinos) e seus cruzamentos. Essas perdas relacionadas a carne, leite e morte dos animais, são decorrentes da intensa espoliação sanguínea e da transmissão de agentes patogênicos: da Tristeza Parasitária Bovina (TPB), os protozoários Babesia bovis e Babesia bigemina, e a bactéria Anaplasma marginale. Registra-se como agravante o favorecimento de miíases em função das lesões causadas pelos carrapatos, sobretudo em altas taxas de infestação.

O carrapato R. microplus possui um único hospedeiro (é monóxeno) com uma fase parasitária se desenvolvendo em um período médio de 21 dias. Apesar dos bovinos serem os principais hospedeiros, outras espécies podem também manter a população de carrapatos como as ovelhas deslanadas, o cavalo, o veado campeiro e outros animais silvestres.

No Brasil, dependendo da região do estudo, são relatadas de 3 a 5 gerações de R. microplus por ano. A variação da temperatura e umidade no ambiente influencia diretamente os parâmetros biológicos do carrapato no campo ao longo do ano e, com isso, podem variar ano a ano e precisam ser observados.

Podemos considerar a primeira geração no ano logo após a menor taxa de infestação no inverno, período seco no Brasil central (julho/agosto), quando as condições adversas de frio e seca promovem alta mortalidade dos carrapatos no ambiente e ressecamento dos ovos, resultando em um reduzido número de larvas infestantes na pastagem.

Figura 1. Fêmea de R. microplus ingurgitada, massa de ovos, larvas na gramínea e bovino infestado.

Como uma geração ocorre normalmente em 60 dias surge uma segunda geração em outubro, já na primavera. Ocorre um aumento da população nas pastagens pela geração de mais larvas devido à grande capacidade de cada fêmea ingurgitada realizar a postura em torno de três mil ovos. Assim, caminha-se para uma terceira geração no período favorável de desenvolvimento no início do verão (dezembro/janeiro).

Em seguida vai ser gerada a maior população de carrapatos do ano, a quarta geração que ocorre no começo de outono (março/abril) considerada a última geração, pois as condições climáticas como alta temperatura e umidade são favoráveis ao desenvolvimento da fase não parasitária do carrapato. Pode acontecer uma quinta geração dependendo do clima ser favorável.

Além das variáveis climáticas ambientais, as condições micro ambientais são fundamentais ao desenvolvimento do carrapato. Por exemplo, a temperatura e umidade ao nível do solo, e de mata afetam a capacidade de hidratação dos carrapatos e sua sobrevivência em um determinado local. Assim como a mata fornece proteção aos carrapatos quando em condições adversas, a pastagem baixa oferece maior incidência solar e diminuição da população de carrapatos que fica desprotegida no pasto.

Estudos mostraram no Brasil central que, na fase de vida livre, o tempo de sobrevivência das larvas na pastagem é em média de 82 dias. Com 84 dias de diferimento da pastagem ocorre grande redução das larvas no pasto.

Existem dados em outras regiões que apresentam sobrevida de mais de 100 dias. Essas condições são dependentes do clima e das condições das pastagens podendo variar e precisam ser monitoradas.

Ambientes com pastagens altas ou sistema de consórcio com sombra são mais favoráveis aos carrapatos devido ao efeito tampão influenciando na temperatura e a umidade a que os carrapatos estão submetidos.

CONTROLE/MANEJO DO CARRAPATO DO BOI

Usualmente, o controle é realizado quando se vê a infestação de carrapatos adultos no animal e já se sabe que, apenas 5% estão na fase parasitária nos animais e 95 % da população de carrapatos estão em forma de larvas nas pastagens, e é baseado na utilização de acaricidas de forma tática, obtendo baixa eficácia, pois trata apenas a população parasitando o hospedeiro. Importante também que o uso desordenado de acaricidas sem orientação adequada não apresenta um bom efeito no controle e favorece o surgimento da resistência nas populações de carrapatos.

A vigilância da população de carrapatos com relação à resistência a acaricidas é fundamental para monitorar a presença de populações resistentes e determinar a escolha de um acaricida eficaz naquela população, diminuindo assim o risco de contaminação ambiental, assim como a presença de resíduos químicos na carne, leite e seus derivados.

Várias bases químicas são oferecidas no mercado para uso no controle químico do carrapato, mas hoje em dia existe uma oferta grande de associações de acaricidas à base de cipermetrina. Cada base química precisa ser observada com relação ao seu período de proteção, carência para uso dos produtos de origem animal e estado fisiológico do animal. Novos produtos chegam ao mercado, e precisam ser analisados e escolhidos com cuidado.

Além disso, várias formas de aplicação são apresentadas como opção: pulverização, injetável, sistema pour on etc. Importante lembrar que a orientação técnica adequada é fundamental em função do tipo de ação; de contato ou sistêmico; do tamanho de rebanho; da necessidade de manejo; do período fisiológico do animal e das ferramentas de apoio e principalmente do custo da dose.

Experimentos com a mesma base química mostraram a campo melhor desempenho na forma de aplicação com ducha veterinária em comparação com o sistema pour on. Se a forma de aplicação reduz a eficácia, acarreta o aumento da reinfestação das pastagens e não produz o efeito de um controle estratégico esperado.

Resultados de pesquisa confirmam que o mau uso dos acaricidas é responsável pelos maiores prejuízos, pois existe a soma do impacto dos prejuízos do carrapato adicionado ao custo no controle inadequado.

Com relação à sensibilidade dos bovinos aos carrapatos, os taurinos e seus cruzamentos são mais sensíveis e estão associados a altas taxas de infestação, em contrapartida, animais zebuínos são mais resistentes aos carrapatos e geralmente possuem uma carga parasitária baixa.

Se em um mesmo pasto existirem duas populações de bovinos com sensibilidade diferente ao carrapato, por exemplo, Brangus e Nelore, os grupos sempre terão o mesmo nível de infestação para raça em função da determinação genética. Mantêm-se os animais sensíveis com alta infestação, não controlando a população de carrapatos e necessitando tratar os dois grupos para controlar a população nas pastagens.

Por outro lado, a susceptibilidade individual dos animais aos carrapatos, mesmo dentro de uma determinada raça ou cruzamento, pode ser observada sendo que 20% dos animais apresentam 50% dos carrapatos e esses são os maiores responsáveis pelos picos de infestação de carrapatos.

Para a avaliação desse impacto econômico em diferentes raças de bovinos foi elaborada uma Régua do Carrapato mostrando a sensibilidade média da raça que reflete na média do número de carrapatos da infestação e o consequente dano em cada animal.

Figura 2. Régua que mostra a sensibilidade média de raças bovinas a infestação por carrapato.

O emprego do controle estratégico baseado na dinâmica populacional dos carrapatos mostrou-se eficaz no controle desse ectoparasita e pode prolongar a vida útil dos acaricidas. Com isso pode-se reduzir significativamente a frequência de uso e a quantidade de carrapaticida empregado ao longo do ano. No entanto, as condições ambientais e climáticas variam de região para região no Brasil e, para instituir um controle estratégico adequado, deve-se conhecer as particularidades da dinâmica populacional de R. microplus em cada região.

O controle estratégico é definido pelo: ciclo de vida do R. microplus, a dinâmica populacional, a sazonalidade e sua relação com as variações das condições climáticas locais. O tratamento dos bovinos deve começar na primeira geração de carrapatos após o declínio natural no número de carrapatos.

O início do tratamento é preconizado para o final do mês de agosto e começo de setembro. Com esta programação a geração base e que sustenta as gerações mais numerosas é muito afetada, diminuindo a intensidade das infestações subsequentes.

O protocolo de tratamento deve ser executado por aproximadamente 105 dias. Período esse superior à fase de vida livre máxima dos carrapatos na pastagem, promovendo assim a completa ou máxima eliminação das larvas infestantes na pastagem.

Figura 3. Esquema demonstrativo do perfil da população de carrapatos R. microplus no ambiente. Setas mostrando as aplicações de acaricidas no controle estratégico. Número mostrando as gerações da população durante o ano.

O Sistema Lone Tick

A vedação das pastagens por 84 dias ou um sistema agricultura pecuária associado ao controle químico pode ser integrado no sistema de controle. A Embrapa Gado de Corte oferece para o bioma cerrado o Sistema Lone Tick que pode ser uma alternativa de controle sem o uso de acaricidas com base no tempo de sobrevivência das larvas na pastagem.

A proposta é baseada em quatro piquetes com período de presença de bovinos em cada área de 28 dias. Com isso os pastos ficam com um período de vazio sanitário de 84 dias levando a morte das larvas por falta de hospedeiro. Pode ser uma alternativa.

 Figura 4. Esquema demonstrativo do Sistema Lone Tick. Com 28 dias separa o carrapato do bovino e com 84 dias de vazio sanitário controla a população de larvas no pasto.

O CARRAPATO ESTRELA

Dentro da fazenda, o carrapato que possui maior variedade de hospedeiros é o “estrela“ (Amblyomma sculptum) que faz parte do complexo de seis espécies nas américas (Amblyomma cajennense), possui preferência por cavalos, capivaras e antas mas também é muito agressivo ao ser humano e pode se fixar em todas as suas fases de vida.

Nas fases jovens (larva e ninfa) infestam em grandes quantidades e é importante na saúde pública, pois é responsável pela transmissão da bactéria Rickettsia rickettsii, causadora da Febre Maculosa Brasileira (FMB). Aqui é importante lembrar que as larvas são os “micuins” que picam seres humanos que entram no mato e muitas vezes as pessoas não percebem que são carrapatos.

A FMB é uma doença altamente letal que apresenta um quadro clínico inicialmente inespecífico e com muita febre, dificultando assim o diagnóstico diferencial com viroses circulantes na área. Essa situação exige um constante monitoramento a respeito da biologia e ecologia do carrapato estrela na propriedade ao longo do ano.

Ambientes com espécies de arbustos intercalados com pastagens e aguadas possuem grande associação com a presença do A. sculptum, altos níveis de infestação nos animais e maior risco ao ser humano.

Essa espécie de carrapato tem ciclo de vida necessitando de três hospedeiros (trioxeno) para completar seu desenvolvimento. Larvas e ninfas se alimentam, em média, por 3 a 7 dias enquanto as fêmeas necessitam de aproximadamente 12 dias para o completo ingurgitamento. Os estágios imaturos desse carrapato possuem um espectro de hospedeiros muito amplos e que colaboram na manutenção da infestação ambiental.

O carrapato A. sculptum é conhecido por apresentar, em condições naturais, apenas um ciclo anual sendo que os adultos ocorrem nos meses quentes e úmidos abrangendo de outubro a março, as larvas ocorrem de abril a julho (período seco e frio) e as ninfas são mais evidentes nos meses de julho a outubro.

Figura 5. Esquema do ciclo sazonal do Amblyomma sculptum.

Figura 6. Larvas de A. sculptum nas folhas, larvas, ninfas, casal de adultos e fêmea ingurgitada.

CICLO ANUAL DO CARRAPATO ESTRELA

As larvas apresentam diapausa comportamental, período de inatividade em espera de condições ambientais favoráveis. As larvas deixam a diapausa e iniciam a busca pelo hospedeiro geralmente no início de abril, sincronizando seu desenvolvimento para períodos mais favoráveis do ano. Isso determina o ciclo anual desse carrapato. O carrapato estrela se desloca apenas poucos metros horizontalmente e apresenta comportamento de ataque como emboscada (espreita).

A sobrevivência máxima média de adultos do carrapato estrela pode chegar a mais de um ano, mas, quando expostos a umidade relativa do ar baixa e temperatura alta, esses valores caem para menos de um mês.

Figura 7. Larvas de Amblyomma sculptum à espera do hospedeiro.

CONTROLE DO CARRAPATO ESTRELA EM EQUINOS

Com relação ao controle dos carrapatos A. sculptum nos equinos, deve-se levar em consideração a dinâmica sazonal dessa espécie. Recomenda-se um controle estratégico realizando banhos carrapaticidas semanalmente durante os períodos de ocorrência de larvas e ninfas. Os adultos são naturalmente mais tolerantes aos carrapaticidas do que os estágios imaturos.

Pastagens com maior cobertura vegetal favorecem o desenvolvimento deste carrapato no ambiente. Assim, uma das alternativas de manejo ambiental para controle de A. sculptum é roçar as pastagens no verão para expor o solo por algumas semanas até que uma nova cobertura seja estabelecida pelas gramíneas.

Considerando a necessidade de controle do carrapato A. sculptum em áreas de interface com atividade humana é importante o o a essas áreas com roupas claras, mangas longas e calça comprida. Vedar a calça com fitas para impedir a entrada de carrapatos e observar no retorno da atividade se existem carrapatos no corpo e retirar.

Essa prática é importante, pois se o carrapato estrela ficar fixado no local da picada por mais de 4 horas e estiver contaminado com a bactéria R. rickettsii a pessoa pode se contaminar e desenvolver a FMB.

O Amblyomma sculptum é comumente encontrado em cavalos e capivaras e pode infestar bovinos. No México, uma espécie do grupo, Amblyomma mixtum, infesta bovinos em um nível que oferece prejuízos econômicos para a cadeia produtiva necessitando medidas especiais de controle.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O produtor precisa controlar o carrapato quando ele não vê para manter o ambiente seguro e lucrativo na propriedade. Uma geração de carrapatos sem controle perde todo o trabalho e tudo volta a ser como antes. É preciso realizar o controle com orientação técnica e pessoal treinado.

As pessoas que trabalham na propriedade precisam tomar cuidado com as infestações, pois a FMB pode causar sequelas ou mesmo matar uma pessoa com a infecção. O que é necessário e essencial é manter os carrapatos longe dos bovinos, dos trabalhadores e dos frequentadores de parques e reservas.

Os resultados de pesquisa da Embrapa Gado de Corte e o o aos testes do biocarrapaticidograma com as orientações sobre o controle estratégico podem ser adas com mais detalhes no site: Museu do carrapato

Fonte: Embrapa Gado de Corte. Por: Pesquisador Renato Andreotti.

Douglas Carreson

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