MELHORAMENTO GENÉTICO DE CODORNAS NO BRASIL
A evolução da avicultura no século XX representa uma marca vitoriosa da pesquisa em busca da eficiência da produção animal. As alterações drásticas nos índices zootécnicos tanto de aves de postura como de corte tiveram como base o melhoramento genético, a nutrição e a sanidade. A contribuição do melhoramento genético na evolução da avicultura pode ser considerada como a mais expressiva quando comparado ao que ocorreu em outras explorações zootécnicas. Na literatura científica encontra-se um grande número de artigos tratando de melhoramento genético de aves, sendo fortemente predominante aqueles que versam sobre o melhoramento genético de galinhas de postura e frangos de corte. Entretanto, de forma geral, a codorna é usada como modelo experimental e, por essa razão, informações científicas disponíveis sobre o desenvolvimento linhagens de codornas, tanto para postura como para corte, destinadas à produção são escassas. No Brasil, a criação de codorna vem crescendo, de maneira considerável, desde a sua implantação como atividade avícola econômica. A razão deste sucesso é plenamente justificável pela qualidade excepcional de sua carne e pelo alto valor nutritivo e agradável sabor de seu ovo, o que tem resultado em boa aceitação no mercado consumidor. Contudo, essa expansão tem encontrado barreiras que por vezes inviabilizam a exploração econômica. Uma dessas barreiras é a falta de material genético que garanta o potencial de produção. Na coturnicultura as possibilidades de exploração são a produção de carne, a produção de ovos, produção de codornas de um dia e codornas recriadas com 20 a 30 dias de idade. Apesar da coturnicultura no Brasil se desenvolver em pequenas explorações, a despeito da existência de criadores de maior porte, pode-se possuir um ciclo fechado procedendo-se a reprodução, incubação e produção comercial. Nesta situação é elevado o risco de problemas de contaminações microbianas, que podem ter conseqüências desastrosas na eficiência econômica do empreendimento. Uma solução para isto, à semelhança do que acontece na avicultura industrial, é a especialização de tarefas, o que implica na existência de aviários de codornas especializados nos seguimentos de seleção, denominados de avozeiros, de multiplicação, denominados de matrizeiros, e de produção, denominados produtores comerciais. Entretanto, não existe ainda no Brasil qualquer programa de melhoramento genético de codorna, desenvolvido em bases técnicas. A prática corrente tem sido a reprodução do material genético disponível que, pela deficiência de controle e falta de esquema de seleção adequados, sofre problemas de depressão pela consangüinidade resultando em redução de postura, queda de fertilidade e aumento de mortalidade. Anais do IV Simpósio Nacional de Melhoramento Animal, 2002 O esquema para desenvolvimento de material genético em codornas deve seguir o mesmo procedimento que é praticado para galinhas de postura e frangos de corte, ou seja, o desenvolvimento de linhagens por seleção, para características complementares ou não, visando a exacerbação dos efeitos genéticos aditivos, e o posterior cruzamento para explorar a heterose e recuperar os efeitos de uma possível depressão causada pela endogamia. O processo de desenvolvimento de linhagens a primeiramente pela avaliação da estrutura das populações disponíveis, por meio da estimação da variabilidade genética existente nas características economicamente importantes e das correlações entre elas. Métodos adequados para estimar estes parâmetros populacionais são descritos por GIANOLA e FERNANDO (1986). Essas informações permitem predizer os ganhos genéticos possíveis de serem alc ançados nas características, usadas como critério de seleção, e as alterações nas demais características economicamente importantes, provocadas pelas respostas correlacionadas à seleção praticada. MINVIELLE (1998) apresentou uma revisão sobre o melhoramento genético de codornas visando a produção. As informações levantadas indicam valores de herdabilidade para peso corporal entre 0,47 e 0,74, para a produção de ovos entre 0,32 e 0,39, e para peso do ovo entre 0,35 e 0,62, mostrando que ganhos genéticos podem ser obtidos. Adicionalmente, os valores para as correlações genéticas do número de ovos com o peso corporal e com o peso do ovo, respectivamente de 0 a -0,21 e de -0,19 a – 0,55 , indicam uma margem razoável de possibilidade de obtenção de ganhos genéticos no número de ovos sem fortes alterações no peso corporal e no peso do ovo. A despeito dessas informações permitirem perspectivas de sucesso em programas de seleção, tanto para corte como para postura, a estimação de parâmetros genéticos e fenotípicos do material genético disponível é imprescindível, visto que variam de uma população para outra. Se a seleção tem o propósito de alterar o peso corporal o critério de seleção é, objetivamente, o valor genético para peso a determinada idade, normalmente algumas poucas semanas, e o método recomendado é o de modelos lineares mistos, adotando o modelo animal. Todavia, se a seleção busca melhorar a produção de ovos a definição do critério de seleção não é trivial. Ainda permanecem pouco conhecidas as correlações entre produções acumuladas em períodos parciais e a produção acumulada no período total de postura. Estas informações são de fundamental importância para a definição do critério de seleção a ser empregado. A seleção baseada na produção no período total de produção é capaz de gerar maior ganho genético para esta característica. Entretanto, o uso deste critério de seleção envolve dois problemas. O primeiro é o aumento do intervalo de geração porque a informação que orienta a seleção somente é obtida ao final do ciclo de postura e o segundo é o fato de os animais selecionados a esta idade apresentarem menores taxas de postura e fertilidade, implicando na necessidade de maior esforço para multiplicação do material selecionado. Estes problemas podem ser contornados por meio da seleção indireta, tomandose como critério de seleção a produção acumulada durante a fase inicial da postura. Todavia, é necessário saber quanto tempo deve durar o controle de produção na fase inicial, para que se detecte suficiente variabilidade genética com alta correlação com a produção acumulada no período total de postura. Qualquer que seja o critério de seleção adotado, atenção deve ser dada ao número de animais testados em cada linhagem, de maneira a garantir alta intensidade de seleção, e no número de animais selecionados para a reprodução, para se garantir um tamanho efetivo de população que reduza ao mínimo o incremento de consangüinidade Anais do IV Simpósio Nacional de Melhoramento Animal, 2002 e, conseqüentemente, a depressão das características determinantes da viabilidade da espécie, tais como a taxa reprodutiva e a sobrevivência (FALCONER, 1981). Nesse contexto o tamanho efetivo da população é entendido como o número de reprodutores, machos e fêmeas, cujos filhos se tornam reprodutores na geração subsequente, ou, em outras palavras, o número de avós de determinada geração. Esta definição implica em que não basta ter um plantel numeroso de reprodução se a seleção retém animais pertencentes a um pequeno número de famílias. Assim, o método de seleção a ser utilizado assume também importante papel. Um método de seleção freqüentemente empregado para garantir maior tamanho efetivo de população é o índice combinando o desempenho individual com o de família. Pesos são atribuídos ao desempenho do indivíduo em relação à sua família e ao desempenho da família em relação à população. Este método conduz à seleção dos melhores indivíduos dentro de cada família. Contudo, ele não otimiza a predição dos valores genéticos dos indivíduos, por não considerar todas as informações disponíveis. Contrariamente, o uso de modelos lineares mistos adotando-se o modelo animal permite o uso de toda informação disponível. Porém se a característica, na qual se baseia a seleção, apresentar baixa herdabilidade o método atribui às informações de família maior peso, fazendo com que ocorra a seleção de maior número de indivíduos pertencentes a menor número de famílias, o que reduz o tamanho efetivo da população. Uma possível medida para minimizar este problema é omitir a ascendência das matrizes, restringindo as informações de família, o que força o método a atribuir maior peso às informações individuais (MARTINS, 1995). A aplicação do modelo animal envolve o conhecimento da genealogia dos indivíduos (MARTINS et al., 1997), o que implica na existência de alguma forma eficiente de identificação dos acasalamentos e dos indivíduos, desde o nascimento. Em programas de melhoramento de galinhas de postura ou frangos de corte o controle a identificação dos indivíduos por meio de anilhas ou plaquetas é relativamente simples e o uso de ninho alçapão garante a identificação dos ovos. Porém, em codornas o tamanho do pintainho ao nascer dificulta a identificação, mesmo com o uso de anilhas, visto que diâmetro da canela aumenta rapidamente na primeira semana. Além disso a impossibilidade de uso de ninho alçapão obriga o emprego do controle individual de acasalamento, trabalhoso quando envolve grande número de matrizes. Por essas razões programas de seleção comerciais tendem ao uso da seleção massal, o que resulta em ganhos genéticos menores do que os poderiam ser alcançados. Enquanto programas de seleção são estabelecidos exclusivamente para melhoramento de galinhas de postura ou frangos de corte, na coturnicultura se abre a perspectiva de formação de linhagens com duplo propósit o devido ao fato da estimativa de correlação genética entre peso corporal e número de ovos ser de pequena magnitude. Contudo, são necessários estudos que confirmem tal possibilidade. Se possível a exploração poderia ser dirigida de forma a utilizar os mac hos para corte e as fêmeas para postura. O processo de seleção implica em manter populações fechadas o que tem como conseqüência a depressão, por efeito da endogamia, principalmente nas características determinantes da viabilidade da espécie, como a fertilidade e a sobrevivência. Por essa razão o desenvolvimento de linhagens deve ser acompanhado do subsequente cruzamento visando a produção de híbridos, nos quais o efeito da heterose recupera a perda causada pela endogamia. Segundo MINVIELLE (1998), a heterose esperada para a produção anual de ovos em codornas é de 10 a 22%, enquanto que para o peso corporal e o peso do ovo é de 0 a 10%.
Artigo completo em: http://www.sbmaonline.org.br/anais/iv/palestras/pdfs/ivp05.pdf
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