Parâmetros genéticos de cavalos de corrida.
X CURSO DE INVERNO DE GENÉTICA – FCAV/UNESP Ciência & Tecnologia: Fatec-JB, Jaboticabal, v. 6, 2014. Número especial.
ESTIMATIVAS DE PARÂMETROS GENÉTICOS PARA CARACTERÍSTICAS MORFOMÉTRICAS EM CAVALOS QUARTO DE MILHA DE CORRIDA
Guilherme Luis Pereira(1)
Camila Tângari Meira(1)
Josineudson Augusto II de Vasconcelos Silva(2)
Luís Arthur Loyola Chardulo(2)
Rogério Abdallah Curi(2)
Introdução
Embora cavalos de corrida apresentem maior proporção de massa muscular em relação aos de outrasfinalidades Chowdhray (2013), estes começam atreinar ainda muito jovens e, dessa forma, estão sujeitos a problemas físicos em decorrência da alta pressão sobre ossos e articulações imaturas (THOMAS, 2005). Tal fato pode acarretar rupturas e lesões de tecidos, sobretudo em equinos Quarto de Milha da linhagem de corrida que iniciam a vida de competições aos dois anos.
Assim, estes animais precisam ter boa conformação para desenvolver velocidade em corridas de curtas distâncias e ar o estresse do treinamento e participações em provas de alta velocidade. Deacordo com Hill et al. (2010), na raça Puro-Sangue Inglês (PSI) a característica que mais contribui para o melhor desempenho em corridas de curtas distâncias é a proporção e maturidade da musculatura esquelética. Dada a importância de características morfológicas sobre o desempenho em corridas, o objetivo deste trabalho foi estimar, por meio de inferência Bayesiana, co-variâncias e parâmetros genéticos para características morfométricas em equinos da linhagem corrida da raça Quarto de Milha.
Material e Métodos
Todos os procedimentos envolvendo animais foram realizados segundo as normas brasileiras de bem estar animal (protocolo n° 204/2012-CEUA expedido pela Comissão de Ética no Uso de Animais – CEUA da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia da Unesp, Botucatu, São Paulo, Brasil).
Foram coletadas medidas corporais de 289 animais da raça Quarto de Milha de corrida, de ambos os sexos e registrados na Associação Brasileira dos Criadores de Quarto de Milha (ABQM). As medidas foram coletadas nos anos de 2011 e 2013 no Jockey Club de Sorocaba e em haras situados no estado de São Paulo, Brasil. Os procedimentos de mensuração foram realizados conforme Torres e Jardim (1992) com os equinos em estação forçada, isto é, com membros anteriores e posteriores na perpendicular sobre piso plano, sempre do lado direito do animal. Foram tomadas as medidas de altura à cernelha (AC), comprimento de corpo (CC), comprimento de garupa (CG) e comprimento de dorso-lombo (CDor).
Para medidas morfométricas foram considerados, mediante análise para verificação de significância realizada por meio de PROC GLM do software SAS v.9.1 (SAS, 2004), os efeitos fixos de sexo, ano (2011 e 2013) e local da coleta (1 a 15). A idade do animal à coleta foi considerada no modelo como covariável linear. Além disso, foram considerados os efeitos aleatórios de animal e do erro. O pedigree utilizadocontava com informações de 766 animais.
Os componentes de (co) variância foram estimados pelo método bayesiano, via amostrador de Gibbs, utilizando-se o programa GIBBS2F90 (MISZTAL, 2007). As amostras dos componentes de (co) variância foram obtidas de cadeias de 550.000 ciclos. Os 50.000 ciclos iniciais foram descartados (burn-in) e as amostras foram retiradas a cada 100 ciclos (thinninginterval), totalizando 5.000 amostras. A partir das amostras obtidas foram calculadas as médias posteriores para os componentes de (co)variância e parâmetros genéticos e o desvio-padrão associado a cada média posterior por meio do software SAS v.9.1 (SAS, 2004).
Resultados e Discussão
Na raça Quarto de Milha não são realizadas mensurações morfométricas no processo de registro dos indivíduos junto à associação de criadores, nem para a linhagem de corrida, nem para a de trabalho. Embora, o número de animais utilizados para obtenção de parâmetros genéticos neste estudo possa ser considerado pequeno diante de outras raças e espécies, sobretudo para análise multivariada e obtenção de correlações genéticas, o volume de dados aqui levantados é expressivo, visto o tamanho reduzido do rebanho da linhagem de corrida em relação à de trabalho e a dificuldade inerente à coleta de dados morfométricos de cavalos com grande valor agregado.
Os resultados aqui obtidos mostraram coeficientes de herdabilidade altos para CC (0,74) e CDor(0,61). Entretanto os coeficientes de herdabilidade para AC e CG foram moderados (0,44 e 0,47, respectivamente) (Tabela 1). A herdabilidade estimada para AC foi pouco inferior aos valores encontrados nas raças Andaluz (0,58), Wielkpolski (0,57) e Pantaneira (0,61) (MOLINA et al., 1999; KAPRÓN et al., 2013; MISERANI et al., 2002). Já em relação à estimativa de herdabilidade para CC, o valor aqui encontrado foi semelhante aosapresentados por Miseraniet al. (2002) e Molina et al. (1999) para as raças Pantaneiras e Andaluz (0,72 para ambas). Enquanto isso, o valor de herdabilidade estimado para CG foi inferior aoencontrado por Miseraniet al. (2002) para a raça Pantaneira (0,68).
Tabela 1-Estimativas de herdabilidade das características de comprimento do corpo, altura à cernelha, comprimento de garupa e comprimento de dorso-lombo obtidas por inferência bayesiana. Características DPP IC – 80% Mediana Comprimento do Corpo 0,74 0,05 0,69- 0,80 0,74 Altura à Cernelha 0,44 0,13 0,26- 0,61 0,44 Comprimento de Garupa 0,47 0,10 0,33- 0,61 0,47 Comprimento de Dorso-lombo 0,61 0,09 0,50- 0,72 0,61 Herdabilidade; DPP = desvio padrão associado as média posteriores; IC = Intervalo de credibilidade a 80% (limite inferior a 10% e superior a 90%).
Foi observada alta correlação positiva entre CC e CG e também entre CC e CDor (Tabela 2).Embora não haja trabalhos científicos demonstrando estas correlaçãoes, CC é característica muito utilizada por criadores e treinadores na seleção de animais para melhor desempenho em corridas. Da mesma forma, o comprimento de garupa é importante do ponto de vista prático, pois é responsável, em grande parte, pela movimentação e força dos membros traseiros. Portanto, a seleção de animais mais compridos reflete em animais com garupas maiores, além de proporcionar aumento do comprimento dorso-lombo, o que pode influenciar positivamente no desempenho em corridas.Por outro lado a altura à cernelha, outra medida muito utilizada na seleção empírica de animais superiores por parte dos criadores, não apresentou alta correlação genética com qualquer outra medida. Deste modo, a escolha de animais mais altos não implica necessariamente em incremento do comprimento, seja corporal, de garupa ou de dorso-lombo.Levando-se em conta as estimativas de herdabilidade e de correlações genéticas entre medidas morfométricas, as característicascomprimento corporal e altura à cernelha mostraram-se adequadas para constituírem estudos futuros que investiguemascorrelações genéticas entre medidas corporais e desempenho em corridas.
Tabela 2 – Coeficientes de correlação genética estimadas por inferência Bayesiana entre as características morfométricas de comprimento de corpo, altura à cernelha, comprimento de garupa e comprimento de dorso-lombo. Comprimento deCorpo Altura à Cernelha Comprimento de Garupa Altura à Cernelha 0,30 – Comprimento de Garupa 0,80 0,51 – Comprimento de Dorso-lombo 0,76 0,58 0,44 O numero acima indica o coeficiente de correlação, abaixo se encontra os valores de desvio padrão.
4 Conclusão
A importância das medidas corporais em cavalos da linhagem de corrida da raça Quarto de Milha pode ser percebidas durante o cotidiano dos haras e dos jóqueis clubes nacionais. No entanto, não existem trabalhos científicos realizados de modo a auxiliar treinadores e criadores a selecionarem animais com morfologia mais adequada para melhores desempenhos em corridas. Neste sentido, os resultados apresentados neste trabalho auxiliam no melhor entendimento destas relações e fornecem dados úteis para futuros estudos genéticos das correlações entre desempenho e morfologia. . Os parâmetros genéticos estimados neste trabalho indicam que as características de morfométricas apresentam variabilidade genética na raça Quarto de Milha, podendo ser incluídas em programas de melhoramento genético e devendo responder à seleção individual.
Referências
CHOWDHARY, B.P. Equine Genomics. John Wiley & Sons, Inc. 2013.1 ed. 323p.
HILL, E. W.; MCGIVNEY, B. A.; GU J.; WHISTON, R.; MACHUGH D. E. A genome-wide SNP-association study confirms a sequence variant (g.66493737C>T) in the equine myostatin (MSTN) gene as the most powerful predictor of optimum racing distance for Thoroughbred racehorses. BMC Genomics, v.11, n.552, p.1-10, 2010.
KAPRÓN, M.; CZERNIAK, E.; ?UKASZEWICZ, M.; DANIELEWICZ, A. Genetic parameters of body conformation and performance traits of Wielkopolski horses ed in the successive volumes of the herdbook. Archives Animal Breeding. v.56, n.12, p.127-136, 2013.
LIMA, R.A.S.; SHIROTA, R.; BARROS, G.S.C. Estudo do Complexo do Agronegócio Cavalo no Brasil. CEPEA – Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada. Piracicaba: ESALQ/USP,2006.
MISERANI, M.G.; MCMANUS, C.; SANTOS, S.A.; SILVA, J.A.; MARIANTE, A.S.; ABREU, U.G.P.; MAZZA, M.C.; SERENO J.R.B. HERITABILITY ESTIMATES FOR BIOMETRIC MEASURES OF THE PANTANEIRO HORSE. Arquivos Brasileiro de Zootencia. V.51, p.107-112, 2002.
MISZTAL, I. 2007. Disponível em:< http://nce.ads.uga.deu/~ignacy/newprograms.html>; o em: 21/02/2014. MOLINA, A; VALERA, M.; SANTOS, R. RODERO, A. Genétiaramater of morphofunctional traits in andalusian horse.Livestock Production Science.v.60, p.295-303, 1999.
SAS.SAS/STAT ’s Guide, Version 9.1, Volumes 1-7.SAS Institute Inc., Cary, NC, USA, 2004.
THOMAS H.S. The Horse Conformation Handbook.Storey Publishing, North Adams, 2005.
TORRES, A. D. P.; JARDIM, W. R.Criação do cavalo e de outros equídeos. São Paulo: Editora Nobel, 3ª ed., 1992. 654p.
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