Pecuária ajuda a reduzir desertificação e os incêndios
Pecuária ajuda a reduzir a desertificação e incêndios
“Já estamos revertendo a desertificação em cerca de 15 milhões de hectares em 5 continentes” aponta o ecologista Allan Savory. “As pessoas que entendem de carbono muito mais do que eu calculam que, a título ilustrativo, se ampliarmos esse projeto, podemos retirar carbono o suficiente da atmosfera e armazená-lo com segurança nos solos por milhares de anos” declara ele cheio de esperança com suas realizações. “Se fizermos isso em cerca de metade dos prados do mundo, podemos retornar aos níveis pré-industriais e alimentarmos as pessoas” diz Allan. “Não consigo pensar em quase nada que ofereça mais esperança para o nosso planeta, para nossas crianças, e as crianças delas, e toda a humanidade.” conclui o ecologista.
Quando se trata da saúde do solo na pecuária, um fenômeno muito temido é a desertificação, a qual desenvolve-se com facilidade em áreas propícias, gerando prejuízos financeiros e ecológicos. O desgaste do solo, a falta de umidade e fatores climáticos são aspectos que influenciam muito esse fenômeno. Além disso, sabe-se que a pecuária tem sido um grande alvo na hora de decidir o culpado desse processo. O fluxo de animais de médio e grande porte (como bois, cabras e ovelhas) em um pedaço pequeno de território é acusado como um dos grandes causadores da desertificação devido ao atrito e desgaste do solo, além da degradação da vegetação local. Contudo, há biólogos e cientistas que afirmam o contrário.
Antes de adentrar a discussão sobre os causadores da desertificação, é necessário elencar o que este fenômeno significa para a ciência e para os órgãos governamentais. A Agenda 21, em seu 12° capítulo, elaborada durante a Rio-92, concebe a desertificação como “a degradação do solo em áreas áridas, semi-áridas e sub-úmidas secas, resultante de diversos fatores, inclusive de variações climáticas e de atividades humanas”. Com isso, destaca-se um ponto bastante específico desse trecho, que elenca o clima das regiões suscetíveis a esse evento: regiões de clima semi-árido e sub-úmidas secas.
Dessa forma, entende-se que esse fenômeno é mais comum em áreas com esse tipo de clima. Para que o processo de desertificação de fato aconteça, é necessário que a atividade humana aja. Exemplos disso são: queimadas, desmatamento e a atividade de agropecuária. Antônio Magalhães, ex-ocupante de um cargo no CGEE (Centro de Gestão e Estudos Estratégicos) afirma ainda que “Enquanto a seca é um fenômeno climático, a desertificação é um fenômeno humano”. Isso põe em cheque o papel do agro e o seu impacto negativo à sociedade, somatizando a outras causas, como o uso de água e o empobrecimento do solo.
Na contramão, Allan Savory, um ecologista do Zimbábue, propõe uma visão diferenciada para esse problema. Em uma palestra dada em 2013 para o portal TED (Technology, Entertainmentand Design), Savory relatou um pouco de sua experiência tratando da desertificação. O ecologista relata que, quando jovem, selecionava áreas para transformá-las em parques nacionais, mais especificamente, na África. Contudo, em uma dessas escolhas, Savory notou que havia uma área em estágio inicial de desertificação e, mesmo depois de proibir a caça e até os nativos de tribos locais de transitar no local, o fenômeno continuava a acontecer. Ele concluiu que o avanço desse processo estava sendo causado pelo grande número de elefantes e, com isso, foi autorizado o extermínio de mais de 40.000 elefantes com a finalidade de frear a desertificação e manter o solo sustentável.
Certamente, o resultado disso foi um pandemônio político pois, além de ser uma atitude extremamente radical, não se freou o fenômeno. Savory ite que este foi o maior erro de sua vida, porém, prometeu dedicar-se a encontrar soluções para a desertificação. Então, o ecologista ou a trabalhar em casos como este nos Estados Unidos da América e observou situações bastante atípicas de parques nacionais sem qualquer tipo de atividade animal terrestre há mais de 70 anos, mas que estavam em estágios piores do que os que lidava na África.
Ele pontua tópicos de extrema importância, como o fato de que este fenômeno afeta o macroclima, além de estar ocorrendo com mais agressividade nos últimos tempos. Assim, Savory afirma que essas regiões desenvolveram-se em conjunto com um grande número de animais de pasto, os quais possuíam predadores naturais. Dessa forma, os animais de rebanho precisavam unir-se em manadas grandes, o que fazia com que, para se alimentar, eles necessitassem transitar com maior frequência, prevenindo o supercrescimento da vegetação. Isso é considerado pelo ecologista uma forma de controlar a emissão de gases de efeito estufa, pois, nos períodos de seca, a vegetação que não era decomposta biologicamente, ou seja, através da digestão dos animais de rebanho, acabavam oxidando e ando por um processo muito lento de decomposição, isso sem falar de possíveis incêndios.
Sendo assim, após essa vegetação morta se desintegrar, o que restava era o solo nu e uma vegetação bastante inflamável, além da alta liberação de carbono. Para isso, Savory afirmou que se utiliza fogo para permitir que novas plantas cresçam. Todavia, essa é uma prática que é bastante criticada devido aos altos níveis de CO2 emitidos, o que, de fato, causa mudanças climáticas.
Savory afirmou que a única opção para os cientistas e climatologistas é restaurar os ecossistemas de rebanho. Assim, o gado irá pisotear a vegetação, alimentar-se dela e deixar seus dejetos sobre o solo. Isso, de acordo com o ecologista, permitirá que o solo absorva e retenha a água da chuva, armazene o carbono e também decomponha o metano emitido pelos animais sem a necessidade de usar a queimada como agente restaurador do solo. O maior questionamento do cientista foi como emular um ecossistema como esse.
Veja também no Agron: Como combater a desertificação e a mudança climática
Anos de pesquisas mostraram a Allan que reunir um determinado número de animais de rebanho não era suficiente. Allan precisou analisar pesquisas de áreas próximas à ecologia e adaptá-las para as suas necessidades e, enfim, criar, nos anos de 1980, o Holistic Management and Planned Grazing (Controle Holístico e Pastoreio Planificado), um projeto que busca abranger a complexidade social, ambiental e econômica de nossa sociedade. O projeto foi aplicado em áreas já desertificadas e contava com a ajuda da população local para seu desenvolvimento. Então, voluntários foram treinados para ensinar como manejar o gado e simular a vida em natureza nas regiões de pradaria. Os resultados desse experimento foram extremamente satisfatórios para toda a equipe e, desde então, Savory vem expandindoo projeto para diferentes áreas. Ele afirma querer contar com, até 2025, pelo menos 100 centros de formação. O instituto possuía, em 2019, 46 centros de formação que difundem seu projeto ao redor do mundo. Há centros espalhados na África, na Europa, na América do Norte, na Oceania e na Ásia. A América do Sul também conta com cinco centros de formação de Controle Holístico, situados no Brasil, na Argentina, no Chile, no Uruguai e na Colômbia.
Savory graduou-se em Biologia e Botânica através da Universidade de Natal, na África do Sul. Ele também é o presidente e fundador do Instituto Savory, que visa a facilitar a reabilitação em larga escala das áreas verdes do mundo. A proposta de seu instituto é bastante ambiciosa. Para isso, ele pretende utilizar a forma de istração citada acima, o Controle/Manejo Holístico, que, em outras palavras, baseia-se na rotação do gado na pastagem, juntamente com o planejamento e a verificação das necessidades do solo, assim como a avaliação de estratégias de imitar um ecossistema sustentável. Isso significa restaurar a vegetação nativa através do cultivo de novas plantas. O que mais chama a atenção na proposta de Allan é o controle sobre tudo o que ocorre com o solo. O ecologista também propõe que seja realizada uma análise dos fatores ecológicos, ambientais e humanos que afetam o planejamento sobre a pastagem.
Esse panorama feito através do controle revela onde e quando o gado precisa estar e determina a forma com que o pecuarista istrará planejará os próximos movimentos. Isso faz com que o gado se alimente, urine e defeque em regiões que há plantas mais antigas. Os dejetos acabam sendo absorvidos pelo solo por pequenos insetos e outros organismos. Por fim, o Controle Holístico facilita os processos que existem em um ecossistema saudável, como o ciclo da água, o ciclo dos minerais e a dinamicidade das comunidades de animais.
Allan Savory possui uma visão bastante contrária ao que se estuda sobre desertificação nos dias atuais, contudo, afirma, com certeza, que esse é um método bastante eficaz de frear a desertificação. O ecologista dispõe de um blog, lugar em que atualiza as informações sobre a iniciativa de seu instituto. Além disso, há um acervo científico disponível, autorizado pelo próprio ecologista, que discorre acerca do Manejo Holístico.
A palestra encontra-se disponível na íntegra e com legendas em seis línguas, inclusive português, e o portal Agron: /publicacoes/noticias/ecologia-agro-sustentavel/2016/03/25/047919/como-combater-a-desertificacao-e-a-mudanca-climatica.html
Por Aldo Cesar Gai Guimarães, Equipe Agron
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